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1 11/05/2020 13:32

Ser amigo do rei! Esse é o grande negócio do brasileiro! Funciona que é uma beleza quando se é chegado à corte real, mesmo que o sistema seja republicano, nesse nosso grande Brasil brasileiro. Numa república, pelo que aprendi, tudo deve ser na base do Dura lex, sed lex (a lei é dura, mas é a lei). Infelizmente, para alguns, é Dura lex, sed latex (a lei é dura, mas estica).

A cada pedacinho de Brasil existe a sua Pasárgada – não a persa (Irã), mas a da concepção do poeta Manuel Bandeira – em que cada um a toma para si a amizade do rei em forma de benesses, sempre na forma do dinheiro ou favores públicos. A Pasárgada brasileira começa com uma atrevida carteirada e daí pra frente não terá limites se realmente o distinto tiver a amizade real.

Além de prestígio, sem a menor sem-cerimônia o amigo do rei também impõe medo, terror à plebe ignara que o cerca. Nesses tempos de pandemia esse prestígio está muito em voga nas prefeituras e governos estaduais. Os amigos compram dos amigos sem licitação e por preços considerados abusivos, mas sempre sob o argumento da demanda, palavra utilizada pelos economistas para calar a nossa boca diante dos preços aviltantes.

Mas há também os amigos do rei antes conhecidos como os que comem migalhas na cozinha real, sempre propensos a fazer pequenos favores e sair correndo para anunciá-los ao seu redor. Nem por isso se sentem diminuídos, pois bebem do melhor whisky e comem nos mesmos pratos, quem sabe ainda limpam a panela para demonstrar a enorme satisfação, mesmo que outros os chamem de simples puxa-sacos.

Agora, o máximo do prestígio pode ser aferido nas chamadas barreiras sanitárias colocadas nas entradas (e saídas, naturalmente) das cidades, em que o cidadão precisa se identificar e comprovar seu currículo médico, nominando cada uma das moléstias, cirurgias feitas e medicamentos que faz uso. E tem que carregar uma bolsa com os exames e receituários, além de atestado de cura. Do contrário, não passa.

Antes que alguém me pergunte o porquê dessa peroração sem sentido, já que me encontro em isolamento social, quarentena ou sei lá o quê, vou logo explicando: pelas redes sociais chegou a meu conhecimento que um médico teria sido impedido de ultrapassar uma dessas barreiras por não estar em conformidade com a exigências. Não teria em posse os exames, as receitas, o atestado médico de plena sanidade física.

No caso em questão, funcionou perfeitamente o Dura lex, sed lex. Até aí nada de anormal, não fossem outras postagens que recebi (confesso que não tirei a prova dos nove para saber se era mais um fake new) contando coisas do arco-da-velha. As postagens davam conta que, a depender da profissão do entrante, existia um passe livre, desde que o dito cujo fosse encantador de animais (espécie de bajulação para quem adestra cavalos).

Pelo sim, pelo não, não me atrevo nem a chegar perto de uma dessas barreiras para não me sentir desautorizado a continuar minha viagem, mesmo dizendo que sou o dono do meu direito de ir e vir. Vai que eles não saibam o que é e me sentirei desmoralizado. Não quero sentir na pele a situação de um amigo meu que se encontra em Maceió e não consegue voltar para a Bahia, apesar da sua condição de atleta, mesmo no vigor dos 80 e poucos anos.

Pois é, o Bené, o conhecido atacante Canavieira que brilhou nos gramados do Brasil e exterior (Bonsucesso, Botafogo, Internacional, Cerro do Uruguai, Bahia, CRB e Ferroviário das Alagoas), não conseguiu fazer uma daquelas jogadas em que matava a bola no peito, tirava o zagueiro da jogada e mandava a pelota para o fundo da rede. Está lá em Maceió, com toda a saúde e retido, mesmo sadio. Ainda bem que com os amigos.

Nas artes da quarentena temos que tirar o chapéu é para Valdemar Broxinha, que se encontra isolado lá pras bandas do Xixiu, no Sítio Jequitibá, que maldosamente Tyrone Perrucho apelidou de Fazenda Caqueiro, dadas as dimensões. Logo na chegada do vírus, fechou a cancela com cadeado, soltou os cachorros, se trancou em casa e não recebe a visita dos amigos, seja qual o pretexto.

Nem mesmo as ligações por celular Valdemar está atendendo, pois soube que vírus se espalha pelo vento. Como não tem a menor intenção de vir à cidade, pouquíssimos são os felizardos que conseguiram ouvir a sua voz, mesmo assim depois que conseguiram passar um zap convencendo-o não ser portador do Covid-19. Também não dá trela pelo telefone e se despede sem ao menos um até logo.

Ao agir dessa forma brusca, Valdemar Broxinha deixa órfãos uma legião de fãs que amealhou durante o passado, lá pelos tempos da Jovem Guarda, quando tocava guitarra, vestido com calça boca de sino, vistosa camisa colorida e peruca encaracolada e um vistoso sapato cavalo de aço. Pelo andar da carruagem, nem mesmo teremos o prazer de reviver os inesquecíveis sucessos cantados pelo recluso Valdemar por meio de um live no Facebook.

Valdemar deve estar na Pasárgada!

*Radialista, jornalista e advogado.


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