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1 27/03/2020 11:40

Creio em Deus Pai Todo-Poderoso! Cruz Credo, pé de pato, mangalô três vezes! Nesses tempos bicudos em impera altivo e absoluto o famoso Coronavírus, especialmente vindo da China com a missão de massacrar nós pobres brasileiros, já tentei me defender de todos os modos e jeitinhos possíveis. Já tentei apelar pra tudo, mas onde vou encontro as portas fechadas pra mim.

Eu não tinha a ideia que esses chineses e seus representantes aqui pelo vasto Brasil tinham assim tanta raiva de mim, a ponto de proibir minhas incursões semanais às assembleias do Clube dos Rolas Cansadas e da Confraria d’O Berimbau. Pelo pouco que pude apurar com os amigos, tá tudo dominado e agora os velhos somente podem sair de casa com a autorização expressa do prefeito ou governador.

Nem eu mesmo sabia que estava jurado a morrer (não de amor, como na música) de um vírus internacional, vindo do continente asiático, especialmente da China de Mao Tsé Tung, que não se contentou de matar milhões de seus compatriotas. Querem mais sangue! Como sou precavido, procurei cumprir a lei, mesmo sendo sabedor que esses produtos vindos da China não duram mais de três meses, conforme um zap que recebi.

Como sou bom de memória, lembro de um ditado frequentemente ouvido quando criança lá pelas bandas do bairro Conceição, Itabuna, que dizia com toda a sabedoria: “Vem o mau ao cavalo ao bem do urubu”. Filosofia pura, que embora não tínhamos a condição de decifrar, pelo menos guardamos na cachola. Hoje sei que o “cavalo morto” somos nós e o urubu de barriga cheia se aplica aos políticos – prefeitos, governadores, parlamentares.

Vou me ater nessas mal traçadas linhas a Canavieiras, onde vi tudo de perto – às vezes por ouvir dizer, mas por gente de minha confiança – e tenho capacidade de discernir, de forma fidedigna. Apesar do meu pedigree profissional, não sabia dos infinitos poderes dos nossos governadores e prefeitos em mandar e desmandar de nós, pobres prisioneiros mortais – ainda vivos pelo amor de Deus.

Velhos, então, passaram a ser estorvos, merecedores de reclusão, em que os cujos mais novos passaram a correr deles – nós – como o diabo da cruz. Me sentia – como outros da minha idade – um empesteado ambulante. Só depois é que me dei conta que nossas altas autoridades municipais e estaduais – não satisfeitos – jogaram no mesmo saco pessoas de idades diferentes, acho que para garantir os princípios democráticos.

E com muita sabedoria, ditavam regras onde poderíamos (eles, não eu) frequentar. Supermercados, postos de combustíveis, farmácias e outros estabelecimentos privilegiados. E olha que nem precisaram colocar uma placa nesses estabelecimentos uma placa na porta impedindo a entrada do vírus. Lembro até de supermercados cheios de gente ao redor das prateleiras – imunes ao vírus –, pois o prefeito baixou decreto mandando fechar a lanchonete, que fica bem ao lado. Portanto, delimitou, sabiamente, a circulação do vírus.

E não foi só isso, os prefeitos exigiram do presidente da república e dos governadores poderes excepcionais para encarcerar no domicílio, fechar as atividades profissionais produtivas, estradas, o escambau. Mas faltava, ainda, o primordial, comprar sem licitação, do contrário o vírus mataria a todos. De novo, lembrei de um amigo, que com seu linguajar destravado profetizava com muita propriedade, estar Canavieiras livre de qualquer coronavírus da vida, e justificava:

– Ora, esse vírus vem do exterior e quem participou do carnaval foram os turistas vindo de Santa Luzia, Camacan, Una, Santa Maria Eterna e, quiçá, Buerarema São José da Vitória. Não tendo turista de fora do Brasil, nem passa pela cabeça do Coronavírus perder seu tempo em Canavieiras. Não deu outra. Bingo.

Desconsolado – mas para não perder o embalo – o prefeito mandou fechar a cidade e espalhou o terror prometendo choro e ranger de dentes aos desobedientes que não ficassem confinados. Não satisfeito, gravou – ele mesmo – um áudio e mandou um sem número de carros de som sair pelas ruas da cidade. Por falta de técnica de comunicação, a população confinada não conseguia ouvir o extenso áudio e era obrigada a sair de casa caso quisesse ouvir o lero-lero alcaidiano.

Errou como médico, ao espalhar o terror, errou como prefeito ao tentar disciplinar a vida comunitária, mas ficou feliz e satisfeito em se fazer o mandatário. Em parceria com o vírus, já disciplinou até os enguiços e quebras dos caminhões coletores de lixo, que agora têm dia e hora marcada para emperrar: por decisão do alcaide e do Covid-19, coleta só às segundas, quartas e sextas-feiras. Sábado, não, os caminhões estão quebrados.

E para o bem de sua saúde é melhor obedecer!

*Radialista, jornalista e advogado


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