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1 23/04/2020 10:50

Ainda ouvíamos os últimos acordes das músicas carnavalescas quando nos demos conta de que o Coronavírus, na sua versão Covid-19, já convivia entre nós. Aqui chegou sem precisar de visto e apresentar passaporte, não sei se devido a nossa parceria firmada com a República Popular da China, que exigiu do Brasil uma certidão de bom comportamento, atestando que seria, deveras, um país democrático e de livre economia.

Para o entusiasmo geral da Nação, nos orgulhávamos das constantes atracações de navios em nossos portos com o compromisso de fazer a viagem de volta com nossos produtos e logo se transformou em nosso parceiro comercial número um: era a glória! Se antes os navios traziam apenas as quinquilharias vendidas ao preço de R1,99 e sem garantias, agora levava nossa soja, nossas carnes e demais produtos.

Com a circulação da economia entre os dois países circulando a mil por hora, nem ao menos nos demos ao trabalho de lembrar dos constantes vírus distribuídos pela China – sem qualquer pedido de aquisição pelos países do ocidente. Se fizermos um simples busca no Google tomaremos conhecimento de todos os malefícios a nós enviados, a exemplo da Gripe Asiática, Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), Gripe Aviária A (H5N1) e por aí afora.

Mas como dizia aquela personagem televisiva que “brasileiro é bonzinho”, nem nos demos ao trabalho de analisar a próxima bomba viral encubada na China: o Coronavírus, na sua versão Covid-19. Ora, como dizemos com muita propriedade que Cristo nasceu no Brasil – na Bahia, por sinal – estamos, portanto, vacinados. Quem é valente o suficiente para brigar com a Dengue, Zica e Chikungunya vai ter medo de vírus chinês?

Para não ficar apenas da teoria, os brasileiros passaram à prática e exibiram camisas e blocos denominados “Coroavírus”, numa demonstração de picardia e empoderamento pelas avenidas Brasil afora. Prefeitos e governadores minimizaram o vírus e se esbaldaram dentro e fora de seus estados. Confiantes no poder consagrado nas urnas, não se deram a trabalho de cancelar a festa momesca, coisa de somenos importância em vista dos milionários contratos.

Na contabilidade existe uma lei – cláusula pétrea, se fosse constituição –, a partida dobrada, método que assevera com muita propriedade: a todo débito corresponde um crédito de igual valor e vice-versa. Resultado: como dizia o personagem Bento Carneiro, o Vampiro Brasileiro interpretado por Chico Anísio, “não creu ni eu, se finou-se”. E o castigo veio a cavalo, como dizem os mais velhos.

Pandemia de Coronavírus instalada, sorrateiramente – apesar de esperada – os mosquitos Aedes aegypti começaram sua festa anual, protegidos da grande mídia ocupada com a guerra ideológica travada entre comunistas e conservadores. Como sempre, chega devastando os descuidados com os quintais e seus vizinhos, levando-os à cama com sintomas de febre, dores musculares, atrás dos olhos e articulações, conforme a doença.

Para não dizer que não falei em números, nas primeiras 14 semanas o Brasil registrou 525.381 casos prováveis de dengue e 181 mortes provocadas pela dengue. Também foram registrados este ano 15.051 casos e três mortes por Chikungunya, e 2.054 casos de Zika. As duas doenças, assim como a dengue, são transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

Já o número de mortes em razão da pandemia do novo coronavírus (covid-19) chegou a 2.906, conforme balanço mais recente divulgado quarta-feira (22) pelo Ministério da Saúde. Já os casos confirmados subiram para 45.757. O índice de letalidade ficou em 6,4% e o ministro da Saúde, Nelson Teich, confirmou que 25,3 mil pessoas conseguiram se recuperar da doença

Os números não mentem, jamais! Mas então por que a Dengue, a Zika e a Chikungunya não merecem o mesmo espaço na mídia? Simples, lhe falta o cunho ideológico, haja vista que geralmente sua infestação se dá por aval dos donos de casa (desleixo). Nos municípios o programa de erradicação do mosquito Aedes aegypti não é merecedor de grandes esforços do prefeito, ficando por conta dos bravos agentes de endemias.

E o motivo da despreocupação dos prefeitos é um só: Enquanto os recursos de combate à dengue já é previsto no orçamento anual do governo federal, mesmo carimbada sua aplicação é dinheiro certo. Já os recursos de combate ao Coronavírus, na versão Covid-19 são extras e podem ser aplicados (gastos, melhor dizendo) sem a preocupação de licitações.

Basta conseguir um caso que justifique o Estado de Calamidade Pública para fazer jus aos recursos federais, que em parte terão saída no ralo do desperdício do suado dinheiro público tomado dos contribuintes. Além do poder financeiro, os prefeitos e governadores ainda se revestem – inconstitucionalmente – de poderes outros como interferir na vida do cidadão, chegando a extremos como estamos passivamente assistindo.

Coronavírus dá poder político e financeiro, sobretudo status na mídia, ainda mais em vésperas de eleições municipais, fazendo com que se promova acima dos demais adversários ao pleito. Já a dengue dá muito trabalho e preocupação, principalmente ao ter que invadir casas para verificar reservatórios de água e revirar os quintais dos possíveis eleitores.

O Corona é o luxo, a dengue apenas o lixo.

*Radialista, jornalista e advogado

 

 


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